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Poemas de Semíramis
Sevilha
Na Igreja de la Anunciación
rezei para qualquer deus
Barroco ou pagão
não importa
Quantas mulheres naqueles bancos
curvaram seus lamentos
e murmuraram
a mesma prece
que lá deixei?
Leitmotiv
Me aproximo
das bailarinas de Degas
– azúleas, ocres, cinzas
ninfas
Estão ali eternamente vivas
nas molduras douradas
O que dançam? Debussy? Chopin?
Quero um pas de deux
com a Vida
Mas o macabro
são tuas mãos
que tocam
a mesma
música
-
Oferenda
Como uma esfinge
apareço ao dia
renovada em milênios
: sem memórias
na gargalhada em que me vejo
te esqueço um pouco.
Arde tua ignorância por não saber
minhas caras
se me entendes
então outra cara tenho
(Como uma esfinge
faço-me alicerce em segredos.
Não sou resposta nem começo)
Quando a tarde me bate em sol
derramo minha sombra
e abranjo teus desejos na escuridão
E só então sozinha
quando teu corpo
é fardo cansado de perguntas
outra vez em silêncio
ofereço o peito
para a naja escura
No bar
Desfibrando
os sais da cerveja morna
evocamos as mortas idas:
Auta, Florbela, Gilka
Me olha:
eu a próxima morta?
Ode nas sombras
El silencio redondo de la noche
sobre el pentagrama
del infinito
Garcia Lorca
A noite
escureceu meus cabelos:
só a esperança
abre clarões neste caminho
Para onde leva-me
a lua nova
no céu de ônix?
Diana escondeu sua face
mas não eu
Não tenho medo de amar
Talvez eu seja hoje
a mendicante louca
a perder-se entre o vau e as árvores
Sem cajado. Sem lume
E se perco o caminho
encontrarei outras verdades
E serei tudo. E serei lua
Semíramis é um dos personagens literários criados pelo escritor e jornalista Raimundo de Moraes. Os poemas deste post estão no livro Delivrário de Amor e Morte – opus nefandus, que faz parte do Tríade, composto por mais dois livros num mesmo volume: Atirem a pedra, do heterônimo Aymmar Rodriguéz, e Ciclo, assinado pelo próprio Raimundo. Semíramis – artista plástica, poeta e bruxa wicca – é o heterônimo antagônico de Aymmar, tanto no estilo literário quanto na biografia.