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Poemas de Semíramis

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Sevilha
 

Na Igreja de la Anunciación
rezei para qualquer deus
Barroco ou pagão
não importa
Quantas mulheres naqueles bancos
curvaram seus lamentos
e murmuraram
a mesma prece
que lá deixei?

Ensaio de dança na ópera, Edgar Degas

Ensaio de dança na ópera, Edgar Degas


 
 

Leitmotiv
 
 

Me aproximo
das bailarinas de Degas
– azúleas, ocres, cinzas
ninfas
Estão ali eternamente vivas
nas molduras douradas
O que dançam? Debussy? Chopin?
Quero um pas de deux
com a Vida
Mas o macabro
são tuas mãos
que tocam
a mesma
música
 
 
 

        Oferenda
         
         

        Como uma esfinge
        apareço ao dia
        renovada em milênios
        : sem memórias
        na gargalhada em que me vejo
        te esqueço um pouco.
        Arde tua ignorância por não saber
        minhas caras
        se me entendes
        então outra cara tenho
        (Como uma esfinge
        faço-me alicerce em segredos.
        Não sou resposta nem começo)
        Quando a tarde me bate em sol
        derramo minha sombra
        e abranjo teus desejos na escuridão
        E só então sozinha
        quando teu corpo
        é fardo cansado de perguntas
        outra vez em silêncio
        ofereço o peito
        para a naja escura

       

      Dançarinas in blue, Edgar Degas

      Dançarinas in blue, Edgar Degas


       
       

      No bar

       
       
      Desfibrando
      os sais da cerveja morna
      evocamos as mortas idas:
      Auta, Florbela, Gilka
      Me olha:
      eu a próxima morta?
       
       
       
       
       
       
       

      Ode nas sombras
       
       
      El silencio redondo de la noche
      sobre el pentagrama
      del infinito
      Garcia Lorca
       
       

      A noite
      escureceu meus cabelos:
      só a esperança
      abre clarões neste caminho
      Para onde leva-me
      a lua nova
      no céu de ônix?
      Diana escondeu sua face
      mas não eu
      Não tenho medo de amar
      Talvez eu seja hoje
      a mendicante louca
      a perder-se entre o vau e as árvores
      Sem cajado. Sem lume
      E se perco o caminho
      encontrarei outras verdades
      E serei tudo. E serei lua

       

       

      Semíramis é um dos personagens literários criados pelo escritor e jornalista Raimundo de Moraes. Os poemas deste post estão no livro Delivrário de Amor e Morte – opus nefandus, que faz parte do Tríade, composto por mais dois livros num mesmo volume: Atirem a pedra, do heterônimo Aymmar Rodriguéz, e Ciclo, assinado pelo próprio Raimundo. Semíramis – artista plástica, poeta e bruxa wicca – é o heterônimo antagônico de Aymmar, tanto no estilo literário quanto na biografia.

       

Written by passeipostei

04/03/2014 at 19:35